segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As melhores empresas do mundo para trabalhar estão aqui

O Brasil reúne o maior número de companhias entre as 25 melhores multinacionais do planeta, segundo um levantamento inédito

DANIELLA CORNACHINE. EDIÇÃO: FLÁVIA YURI

Quais são os melhores lugares do mundo para trabalhar? A sede de uma multinacional em Nova York? O coração de grupo financeiro em Londres? Um escritório refinado em Paris? O centro de inovação tecnológica do Vale do Silício, na Califórnia? Talvez não. O primeiro ranking global com as melhores empresas do mundo, elaborado pela consultoria global Great Place to Work (GPTW), mostra que o Brasil, empatado com o México, é o país com mais escritórios premiados. Aqui estão 15 subsidiárias das premiadas. São postos de trabalho disputados por jovens talentos, com oportunidades para carreiras internacionais. Nas próximas páginas, você saberá por que elas são atraentes.

Marcos Swarowsky, de 36 anos, da Microsoft, é um dos brasileiros que conhecem essas vantagens. Ele morou cinco anos nos Estados Unidos a convite da empresa. A rotina no escritório em Seattle começava às 8 da manhã. Os colegas de trabalho iam embora por volta das 17 horas. Swarowsky não conseguia sair antes das 19 horas. “Eu me sentia culpado. O brasileiro tem esse horário de trabalho prolongado, mas não precisa ser assim”, diz. Dois anos depois, ele finalmente seguiu o exemplo dos colegas americanos. Durante o verão, passou a deixar a empresa às 16h30 para andar de bicicleta. “Em vez de ouvir um comentário do tipo ‘já vai?’, meus colegas perguntavam se não podiam ir comigo”, diz. Swarowsky voltou ao Brasil há pouco mais de um ano, para assumir um cargo de chefia na área de marketing. Ele está há 11 anos na Microsoft. “Morar no exterior me ajudou a conseguir o que queria. Aprendi a navegar pela empresa com mais facilidade e a resolver os problemas mais rapidamente”, afirma. Hoje, pelo menos 50 brasileiros moram fora do país pela Microsoft. A internacionalização é um dos vários critérios que levaram a empresa ao posto de melhor empresa para trabalhar do mundo (navegue pela lista das melhores empresas para trabalhar no mundo).

"As multinacionais elevaram o padrão de benefícios para os trabalhadores brasileiros."

É a primeira vez que o GPTW organiza um ranking global, reunindo todas as empresas que participaram do levantamento nacional, em 46 países. O Brasil está entre os primeiros colocados no ranking de países com 15 premiadas. O número de escritórios premiados no Brasil é em parte fruto de nosso crescimento econômico. Também reflete a forte participação dessas subsidiárias no levantamento. As ações para atrair e reter talentos nas sucursais brasileiras estão alinhadas com as melhores práticas de recursos humanos globais. “As multinacionais trouxeram novas formas de gerir, com mais padrões e organização”, afirma José Augusto Figueiredo, diretor da consultoria de recursos humanos DBM.

Para escolher as melhores empresas, o GPTW escuta principalmente a voz de funcionários. O GPTW ouviu cerca de 10 milhões de empregados no mundo todo das 6 mil concorrentes. No Brasil, participaram da seleção global as 100 empresas escolhidas como as melhores para trabalhar em 2011. Para o ranking mundial, concorreram as empresas com mais de 5 mil funcionários e com 40% deles fora do país sede. A avaliação do GPTW é feita com base em questionários e visitas. Os funcionários respondem, de forma anônima, a 60 questões, que representam 67% da nota final da empresa. O restante é fruto da análise das práticas de recursos humanos e do depoimento do presidente. No Brasil, jornalistas de ÉPOCA vão até as empresas finalistas para colher mais informações. Se eles encontrarem irregularidades, a empresa perde pontos e pode ser desclassificada. O GPTW deixa à disposição dos funcionários um telefone gratuito para denúncias.

Muitos profissionais sentem orgulho de trabalhar em uma grande empresa por causa de sua imagem. “São nomes fortes, que mexem com o lado ‘aspiracional’ das pessoas. Elas querem ser associadas a coisas bacanas”, afirma Eduardo Marques, diretor da consultoria de recursos humanos EMA Partners no Brasil. Historicamente, o pacote de salário e benefícios oferecidos pelas multinacionais tende a ser mais atraente. Isso não só contribui para a retenção de talentos, como impulsiona o mercado local. “A política das multinacionais obrigou o mercado todo a oferecer oportunidades melhores. Os efeitos são sentidos no pacote de benefícios, salários, preocupação com plano de carreira”, afirma William Monteath, diretor da consultoria Robert Half, no Rio de Janeiro.

Nas empresas premiadas pelo GPTW, os benefícios financeiros continuam generosos. A remuneração pode ser recheada por bônus, prêmios e participação nos lucros. “Quando os resultados do negócio são compartilhados, a percepção entre os funcionários é de que há equilíbrio entre o trabalho realizado e o salário recebido”, afirma Roberta Hummel, gerente de projetos do GPTW Brasil.
Mas o dinheiro não vem sozinho. Muitas dessas companhias oferecem desde academia no local, creche para os filhos, provedor de internet gratuito até mordomias como happy hour e sessão de massagem. “As multinacionais sabem que a melhor forma de buscar resultados é cuidando das pessoas. Elas têm investido em soluções criativas para agradar ao funcionário”, diz Ruy Shiozawa, presidente do GPTW no Brasil.

Toda empresa quer funcionários que pensam e agem de forma independente. Essa busca começa na seleção. As premiadas pelo GPTW têm em comum um bom recrutamento, que identifica não só o profissional mais qualificado, como também o perfil que combine com a filosofia da empresa. A busca pelo funcionário é uma via de mão dupla. O entrevistado é incentivado a agir com espontaneidade e a mostrar quem ele é. E, por outro lado, a empresa ajuda o candidato a conhecer a vaga, para evitar arrependimentos futuros.

O Google é conhecido por contratar e receber bem seus funcionários. A escolha costuma durar alguns meses. Os candidatos são entrevistados por profissionais de recursos humanos, pelos responsáveis da área em que vão trabalhar e até por pessoas de outros setores. “Precisamos de gente que pense por si mesma, que dispense a hierarquia”, afirma Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google. A indicação dos googlers (como são chamados os empregados da empresa) tem muito valor. Foi por meio de uma delas que Viviane Souza, de 24 anos, começou a trabalhar no Google há dez meses. Ela foi contratada como estrategista em vendas on-line. O processo de seleção durou quatro meses. “Estava acostumada a fazer entrevista com o pessoal de recursos humanos e a responder às mesmas perguntas”, diz. “No Google, fiz entrevistas com pessoas diferentes e sobre temas diferentes. Percebi que estavam mais interessados em saber quem eu era e que eu também tinha espaço para fazer perguntas para os entrevistadores.”

Um dos pontos fortes das empresas premiadas é a rotina de trabalho flexível. Isso ajuda a equilibrar a vida pessoal e a profissional, mesmo quando o volume de trabalho é grande. A Coca-Cola permite que os funcionários cheguem entre às 8h30 e 10 horas. Todos têm seis folgas durante o ano para resolver questões pessoais. Marcus Rubim, de 43 anos, é gerente de compras e trabalha no escritório no Rio de Janeiro. Ele consegue frequentar a academia da empresa diariamente, graças a essa flexibilidade. “A Coca-Cola incentiva que cada um faça a própria agenda. É essa a orientação que recebi de meu chefe e que passo para a minha equipe”, afirma Rubim. Ele está há 14 anos na empresa.

Algumas companhias não só permitem como incentivam o trabalho remoto. O importante é estar disponível. A Cisco, empresa que produz equipamentos e sistemas de telecomunicações, fornece ferramentas para que as pessoas estejam sempre conectadas. “Na minha primeira reunião, achei estranho que todo mundo estivesse com iPad, computador e vários celulares. Hoje, tenho três celulares”, diz Rose Mary Morano, diretora de recursos humanos da Cisco do Brasil. “A autonomia mostra que a empresa confia no empregado.”

Um dos benefícios mais valorizados pelos profissionais e comuns às premiadas é o investimento em treinamento e capacitação. Essas empresas acreditam que mesmo o patrocínio de cursos sem aplicação prática imediata contribui para a formação do profissional – e ajuda nos resultados de seu trabalho. A Kimberly-Clark está entre as que oferecem treinamentos dentro e fora do país. Eduardo Aron, de 43 anos, fez dois cursos no exterior pagos pela empresa. Ele está na Kimberly-Clark há quase dez anos. Hoje, é diretor da categoria de produtos para cuidados pessoais e coordena uma equipe com 40 pessoas. Em 2009, foi convocado para fazer um curso de duas semanas na França. Neste ano, passou 45 dias nos Estados Unidos, num curso na Universidade Stanford para executivos. Participaram 150 pessoas do mundo todo. “Conheci casos de outras empresas, que depois discuti com minha equipe aqui. Os cursos me ajudaram a entender o negócio e a trabalhar melhor”, afirma.
No McDonald’s, os mais de 40 mil funcionários no Brasil concorrem a bolsas de estudos. Ganham os melhores em cada função. Em 2011, Jeane da Silva, de 24 anos, foi uma das ganhadoras. Ela está cursando o 1º ano de Direito com a ajuda da empresa. Trabalha há cinco anos no McDonald’s, foi promovida duas vezes e hoje é coordenadora. “Para quem vê de fora, parece que nosso trabalho é só fritar hambúrguer. Mas a gente aprende muito sobre procedimentos, regras. Amadurecemos”, diz.

A premiação não significa que uma empresa seja perfeita. O McDonald’s no Brasil é acusado pelo Sindicato dos Trabalhadores de Bares, Hotéis e Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp) de descontar as horas de descanso dos funcionários. A empresa, em nota oficial, diz que paga todas as horas. Diz que “qualquer episódio pontual deve ser tomado como exceção, e não como a política corporativa”. O McDonald’s tem cerca de 40 mil funcionários distribuídos entre 63 franqueados. Isso pode dificultar o controle da matriz de qualquer desvio local. Dos 1.000 funcionários ouvidos pelo GPTW no Brasil, nenhum relatou qualquer queixa.
Não existe um caminho único para entrar nas empresas que compõem a lista das melhores do mundo. Mas há aspectos profissionais comuns valorizados por todas. Cursos e projetos fora da grade regular são reconhecidos. No currículo, devem constar os diferenciais da pessoa e como ela pode contribuir com a empresa. Para trabalhar em empresas globais, o inglês é obrigatório assim como gostar de (e saber) lidar com pessoas de culturas diferentes. Em muitas empresas, os funcionários formam grupos de trabalho que mesclam empregados de vários países das mesmas áreas. A intenção é trocar experiências e manter os produtos e serviços com a mesma qualidade no mundo todo. A contrapartida da flexibilidade é que o candidato deve saber gerir o próprio trabalho. Isso inclui controlar seus horários, cumprir objetivos sem supervisão direta e dar ideias que não lhe foram pedidas. Essas são características valorizadas aqui e em qualquer lugar do mundo.

retirado do site da Revista Época - Carreira

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